24 de ago. de 2018

Lendo "E o Vento Levou", de Margaret Michell: Parte 2


CONTÉM SPOILERS DO SEGUNDO VOLUME DO LIVRO (E DO FILME)

          E enfim Tara está se reerguendo, e a chegada de Ashley à fazenda vira novamente o mundo de Scarlett de cabeça para baixo. Além de lutar contra esse amor proibido, novas preocupações surgem, e Scarlett se vê em apuros ao tentar salvar a tão amada Tara das mãos dos ianques, que pretendem colocar a propriedade à venda pelo não pagamento dos altíssimos impostos.

          Essa situação desesperadora leva a nossa heroína a procurar ajuda, e é claro que o sumido Rhett Butler surge novamente como uma opção tentadora. Mas acontece que ele está em uma prisão ianque por ter matado um negro, e de nada pode ajudar a sua cativante amada, mesmo com a mais tentadora das garantias. 

"Você disse uma vez que me amava"

          Desesperada para salvar a fazenda, Scarlett acaba se casando com o velho Frank, pretendente de sua própria irmã, dono de uma loja promissora e visando a compra de uma serraria, que mais tarde a própria Scarlett dirigiria. Nessa parte do livro, é animadora a descoberta da protagonista de que as mulheres podiam fazer tão bem quanto, ou até melhor, o trabalho de um homem. É incrível a maneira como Scarlett se destaca em seu tempo, como uma mulher independente, decidida e conhecedora de negócios e cálculos, que até então eram trabalho de um homem. A história mostra também o ponto de vista de Frank acerca de sua esposa, totalmente desacreditado de que uma mulher escolha passar o dia fora trabalhando do que em casa cuidando da família. 

"Grandes bolas de fogo! Não me incomode mais, e não me chame de docinho!"

          Ao voltar para Tara e descobrir que o pai faleceu, Scarlett se vê novamente desamparada, com o sentimento de que deveria proteger a família e ser novamente a responsável por todos da casa. Então, convida Melanie e Ashley para morar em Atlanta e oferece ao amado a oportunidade de trabalhar em sua serraria. A indiferença de Scarlett com os moldes tradicionais da sociedade é hilária, uma vez que na época era considerado um afronte uma mulher grávida sair de casa e mostrar sua "condição", e Scarlett se recusa a parar de trabalhar uma vez que engravida de Frank (a segunda filha de Scarlett que não existe no filme).

             As andanças de Scarlett em prol do seu negócio acabam dando uma grande confusão, que causou a morte de Frank, quando ele e outros homens se envolvem na Ku Klux Klan, um movimento contra os negros e em favor da purificação da sociedade do país. É sempre muito interessante ver como a guerra e as consequencias dela afetam os personagens e como eles estão envolvidos nesses fatos, e que são muito mais explorados do que no filme.

"Eu tenho medo de morrer e ir pro inferno"
          
                  Nesse momento vivenciamos uma dissociação da personagem de Scarlett, no momento em que ela rompe com todos os ideais que visavam para si mesma, como ser a dama recatada e bondosa que a mãe era. Nesse ponto da história, a moça já matou pessoas (direta e indiretamente) e enganou a todos sempre visando o benefício próprio e de sua querida fazenda, Tara. Podemos notar que ela ultrapassara um limite que seria difícil sentir culpa ou remorso por seus atos, e é nesse momento em que aceita o pedido de casamento peculiar do excêntrico Rhet Butter, escandalizando a sociedade, que já não a tratava com muito bom grado. Passa a esbanjar belos trajes, uma casa impecável e bailes grandiosos, fazendo amizade com ianques e não simpatizantes da Confederação, manchando por completo sua imagem na sociedade em que era familiarizada. Mas percebemos que Scarlett passa a não se preocupar nem um pouco, e se vê mais que no direito de se aproveitar da situação quando se lembra dos momentos agoniantes em Tara.

                    A partir daí, a história foca no impetuoso casamento de Rhett e Scarlett. Como conhecidos por nós, ambos são teimosos, voluntariosos e de opinião forte. A vivência é de altos e baixos, principalmente pela ardente paixão que nossa protagonista ainda nutre por Ashley. Porém, tudo vem a baixo com a morte da filha do casal, a adorável e muito amada por Rhett, Bonnie, por imprudência de ambos os pais. Com a dolorosa perda, as coisas a muito tempo negadas por Scarlett vêm à tona, ainda mais evidentes pouco tempo depois com a morte da bondosa Melanie. Com os horríveis acontecimentos, Scarlett percebe tarde demais como foi inadequada no que se refere aos sentimentos daqueles que a amavam. Uma das partes mais tocantes da história, para mim, foi a visita de Scarlett a Melanie em seu leito de morte, quando a nossa protagonista enfim percebe que amava a moça que até então considerava sua inimiga, e dela é de onde vinha toda a sua força contra as adversidades. 


                   
                    Além da constatação de que Melanie era na verdade a única amiga que já tivera, Scarlett se dá conta de que seu amor por Ashley não era nada mais que uma boba idealização infantil, e que destruíra a chance de ser feliz com o homem que realmente amava e compreendia, Rhett. Novamente, um pouco tarde demais, pois Rhett, exausto da indiferença da amada, resolve ir embora, com o famoso "Francamente, minha querida, eu não dou a mínima. 


                    E no final dessa emocionante história, Scarlett resolve retornar para Tara, com o também famoso "Pensarei nisso amanhã". Fechei o livro com o coração pesado, triste por todas as coisas horríveis que aconteceram, mas com certa esperança que a protagonista conseguiria vencer novamente, como fez tantas vezes durante o livro. Venceu a fome, a pobreza e enxergou o que antes não via, e acredito fielmente de que irá se reerguer. Muitos detestam Scarlett por como tratou todos ao seu redor, mas para mim é impossível odiá-la ao ver tantas infelicidades em sua vida. Continua sendo uma das minhas personagens favoritas, e poderia ficar falando horas da sua força e como ela representa tão bem o poder feminino em uma época tão restritiva. Obrigada Scarlett O'Hara pela sua história nos inspirar e nos ensinar tanto sobre a perseverança.



Por: Mariane



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